10 de julho de 2011

Mar de Papoulas, Amitav Ghosh

Mar de papoulas é a obra mais importante de Amitav Ghosh. Finalista do Booker Prize, foi selecionado como um dos melhores livros do ano pelos jornais Washington Post, Economist e San Francisco Chronicle. É um romance épico, cujo pano de fundo são as guerras do ópio na China e no Extremo Oriente no século XIX. Ele narra a jornada do navio Ibis, uma embarcação inglesa que se envolve no perigoso comércio do ópio com a China, e sua inusitada tripulação, formada por oficiais ingleses, um americano mestiço, escravos libertos, fugitivos e condenados - cada qual com suas ambições e seus dramas pessoais. Ghosh descreve desde as dificuldades dos plantadores de papoula na Índia - com sua tradição e seus amores proibidos - até as lutas e os desejos dos inusitados tripulantes do Íbis. Mar de Papoulas transporta o leitor a uma aventura histórica de grandes proporções, digna dos clássicos da literatura no século XIX. Primeiro livro de uma trilogia, é uma obra grandiosa, de personagens cativantes.

Tudo bem, eu admito que no começo enrolei para ler; achei meio parado, descritivo demais. Mas, assim que cheguei na página 100, não consegui mais parar. A partir desse marco (a página 100, haha), li o resto em um dia, e fiquei maravilhada com os trechos muitas e muitas vezes. O Zachary, por exemplo, entrou na minha lista de personagens favoritos - que lindo, doce, sem presunções, adorável, forte, inteligente, meigo, camarada, honesto, lindinho, awn, etc etc etc -, e a Deeti muitas vezes me surpreendeu com suas voltas por cima e sua força de encarar tudo e, sempre que caía, reerguer-se.

Aaah, chega de enrolar. Só resta-me falar que foi um ótimo livro para se ler, e certamente entrou na lista dos meus favoritos.

Enfim, fiquei incrivelmente feliz quando descobri que o livro é o primeiro de uma trilogia. A história se passa no que antecedeu a guerra do ópio, tendo como locação Calcutá, seus arredores, e o inexplorável mar. A grossura engana; o livro, na verdade, flui muito facilmente na maior parte de sua extensão, e é visto pelo ponto de vista de quatro personagens diferentes, principalmente.

Há o marinheiro americano Zachary Reid lindo, perfeito, incrível, meu, que embarcou como simples marujo e acabou, com os revézes que seu navio, o Ibis, sofreu, tornando-se o segundo no comando. Malum Zikri (como é conhecido pelos árabes e indianos da tripulação) é adorável, conquistando a confiança e o afeto de todos rapidamente, por seus modos, seu porte, e o fato de que não é afetado como aqueles para os quais trabalha. Embora aparente riqueza e nobreza, Zachary é filho de uma escrava liberta e seu Senhor, e cresceu na pobreza.

E há a personagem feminina mais forte da trama, Deeti. Deeti trabalhava nos plantios de papoula e seu marido, em uma fábrica de ópio. Os dois tinham uma filha, Kabutri, que era fruto do estupro que a mulher sofrera pelo cunhado e o sogro. Além do que, ela tinha o mal terrível de estar apaixonada por Kalua, um homem forte, alto e bonito, que sempre amou-a, também, em segredo. Só que os dois mal trocam olhares e palavras, por ser proibido. No decorrer da trama, Deeti sofre várias perdas (marido, filha, familiares) e é perseguida, mas passa por tudo isso com jogo de cintura, sem perder a esperança, e muito gênio. Sim, ela é irritadinha, e isso faz com que ela seja respeitada aonde quer que vá, e sobreviva a muitas situações. Mas o que é mais interessante em Deeti são seus olhos cinzas e melancólicos, que Zachary destaca nas últimas páginas do livro.

A outra personagem feminina, também forte, é Paulette Lambert. Diferente de Deeti, talvez Paulette seja mais frágil e dada a romantismo de adolescente, mas isso porque ela se apaixonou por um cara como Zachary. E, assim, também chamou sua atenção rapidamente, arrebatando seu coração logo na primeira conversa. Putli (como é chamada) é doce e parece uma boneca, mas, apesar de muito teimosa (a ponto de ser irritante), é forte e não vê limites, além de querer desempenhar funções que são geralmente consideradas "de homem" e provar a si mesma - e aos outros - que pode.

O outro homem é Neel, um rajá de Calcutá que deve demais ao empregador de Zachary, Mister Burnham. Ele, indiano, é mais sensível do que muitos outros, além de ter um inglês fluente e ser apaixonado por ler. Neel é adorável, embora um tanto ingênuo demais. Ele certamente não serve para "comandar" ou coisas do tipo. Mas sofre uma mudança incrível durante o livro.

"Mar de Papoulas" é maravilhoso. Descreve todas as sensações, localidades, todos os personagens, com perfeição. Eles são humanos, e nós podemos sentir seus sentimentos na pele. É um daqueles livros que você está lendo e pára pra falar "ai, que lindo!", ou que dá vontade de chorar pelo que acontece aos personagens. E o melhor sobre o tio Amitav (haha), é que as personagens femininas por ele criadas, embora estejam em uma posição em que provavelmente seriam bastante "subordinadas" aos outros, resolvem fazer sua própria sorte, trilhar seu próprio caminho, lutar. São fortes e capazes. E isso é muito admirável.

Daria cinco estrelas para o livro, mas admito que as primeiras 100 páginas não são a  coisa mais empolgante do mundo. Um conselho? Leiam, leiam, leiam!

Nota: ★★★★☆
Páginas: 536
Editora: Alfaguara

Tio Amiiitaaav, por favor esteja na Bienal quando eu for lá! Não vá embora antes de eu conseguir um autógraaafo ):

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