30 de dezembro de 2011

Ganhei de natal: Miss Brontë, Juliet Gael


Charlotte Brontë passou a infância em pequena vila em Yorkshire, Inglaterra, criando com os irmãos histórias de um mundo imaginário. Anos mais tarde, usou a mesma inspiração para escrever célebres obras, entre elas a primorosa Jane Eyre. Mas, apesar do crescente sucesso e da aclamação da crítica, Charlotte almejava algo mais. Integrar-se à glamourosa Londres e conhecer celebridades do mundo literário não era suficiente para preencher o vazio que corroia sua alma. Miss Brontë: Um Romance é uma história envolvente e reveladora, que mostra o outro lado da família Brontë.

 Ganhei de Natal é uma "coluna casual" sobre os livros e filmes que eu e a Carol ganhamos de natal. Nesse caso, Antes que eu váMiss Brontë, Starcrossed José e Pilar (eu); e Anna e o Beijo Francês e Um verão que mudou a minha vida (Carol).

Pra ninguém é segredo o meu fascínio por "O Morro dos Ventos Uivantes" e sua autora, a sem grilhões Emily Brontë. Ok, sem grilhões é uma tradução péssima do original Chainless Soul, que é inclusive título de uma poesia autobiográfica e de uma biografia escrita por Katherin Frank. Assim, quando eu vi o título do livro, fiquei fora de mim. Mas aí eu li atrás e vi que o livro era sobre Charlotte, que das irmãs Brontë é quem eu menos gosto. Eu sei que ela é a favorita de praticamente todo mundo, mas eu a acho meio marketing demais, meio... publicidade. Prefiro a intensidade de Emily e a doçura de Anne.

Mas, ok, vamos lá. É sobre as Brontë, se passa em Haworth (cidade na qual se passa uma estória que estou escrevendo) e parece bom. Além disso, não é como se eu detestasse a Charlotte; aliás, até gostei muito dela no romance. Mas, preciso dizer, nem isso ofuscou o fato de que Emily, mesmo romanceada, ainda é encantadora e "rouba o holofote", pelo menos na minha concepção.

- Perguntei onde está Emily - gritou Charlotte.
- Deve tá nas colina - disse Tabby. - As flor começaru a disabrochá. A minina fica lá o dia todu quando podi. [...]
Ouviram a porta de trás se abrir. As unhas do cachorro tocando o chão produziam cliques seguidos pelos passos suaves de Emily.
- Emily - Charlotte chamou -, tire as botas antes de entrar na cozinha. E limpe as patas de Keeper. O chão está limpo.
Ouviram a voz de Emily falando carinhosamente com o cachorro e, um minuto depois, o grande e pesado cão de guarda entrou com ela. Emily trazia um grande ramalhete de ericas e tinha o rosto corado pelo vento. [...] Sua saia estava salpicada de lama e com a bainha úmida, sinal de que havia saltado por sobre diversas valetas e atoleiros.
Isso sem falar nas diversas citações de "O Morro dos Ventos Uivantes" - e na fala de Branwell, irmão das Brontë. Isso meio que me irritou. Emily escreveu aquela fala para Heathcliff amor da minha vida. E Juliet coloca simplesmente como se o irmão dela tivesse dito e, oh, ela achou uma grande ideia. Além do que, faz parecer uma enorme besteira, porque Branwell fala aquilo sobre Mrs. Robinson, mulher para a qual trabalhou e por quem está apaixonado. Todas as irmãs, no romance, acham aquilo besteira, e o que ele fala sobre ela, coisa de bêbado. Sei lá, quem sou eu para julgar? Pode ter sido assim. Mas eu não gostei e em nada referente à Emily isso transparece.

- Talvez encontre um marido cigano - Emily murmurou, sonhadora. - Alto, apaixonado e muito parecido com um herói de Walter Scott.
E ali em cima temos uma descrição de Heathcliff. No mais, nada me incomodou, a não ser o temperamento passivo, servil e obediente da protagonista. Agora que descarreguei minha frustração quanto a isso, vamos falar sobre Charlotte, que é a verdadeira heroína do livro. Charlotte, a mais velha das três meninas, acabou de voltar de Bruxelas com o sonho de abrir uma escola em Haworth. Arthur Bell Nicholls, um homem contra o liberalismo religioso e um tanto duro, mas que esconde uma alma sensível, chegou para ser pároco e ajudar o pai das Brontë, um reverendo. No começo, ela acha-o irritante e aborrecido; ele, entretanto, começa a se apaixonar por ela naquela primavera mesmo.

Mas tudo muda de cor quando Branwell, Emily e Anne falecem de tuberculose, deixando Charlotte sozinha para cuidar de seu pai. Ela, que já havia publicado Jane Eyre, agora publica Shirley, e o segredo de sua identidade é revelado. Antes, a pedido de Emily (que não queria ser reconhecida), as irmãs haviam adotado o pseudônimo de Currel, Ellis e Acton Bell. Arthur já não está mais apaixonado por uma delicada criaturinha que mal conhece; ele está apaixonado por uma escritora, uma mulher misteriosa e muito audaciosa que o encantara antes mesmo de saber seu verdadeiro nome.

É nesse novo modo de vida que "o mal estar que antes existia entre os dois dissipara-se". Charlotte agora é conhecida, respeitada, e ele apenas é um assistente de pároco. Entre viagens a Londres e pessoas ilustríssimas, amores não correspondidos e o medo da solidão, a estória é trilhada de modo suave e bonito.

Mais que um livro de amor e uma biografia romanceada, Miss Brontë é um livro sobre literatura, sobre o amor pela escrita e pela leitura, sobre conquistas e sonhos.

Detestaria ser governada por um homem. [Emily]
- Ah, eu gostaria, mas ele teria de possuir um bom coração sob a fachada viril. [Charlotte]
Nota: ★★★★☆
Editora: Larousse
Páginas: 399

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